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Reality is what we create. Imagination gives us the power to generate our own world. Mind, body and soul... The perfect combinaton.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Teatro de Amadores – Movido pela paixão

Em três palavras: criatividade, amor e trabalho. É esta a combinação da chave que permite a sobrevivência do teatro de amadores. Não é segredo que os apoios financeiros à actividade são cada vez mais reduzidos; a solução do problema parece estar na imaginação dos actores. Sendo uma arte que conta com uma história de milénios, o teatro de amadores “merece um carinho especial” e conta com a dedicação de todos aqueles que desejam manter viva a chama.



O teatro é, antes de mais, um agente de socialização que contribui para a educação dos povos e que exerce um grande poder na sociedade actual.
Com as suas balizas situadas na Antiga Grécia, o panorama teatral de hoje tem uma grande riqueza graças às obras que autores como Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes levaram à cena. Foi com elas que criaram um mundo teatral “policromático” e nos deram as regras do teatro que hoje conhecemos.
Se a nível ocidental, o teatro denominado “actual” remonta a cinco séculos antes de Cristo, o teatro de amadores existe desde que há teatro. De acordo com António Vieira, encenador da Companhia de Teatro CORAgem, um grupo amador da cidade do Porto, “o teatro é o próprio teatro”.


António Vieira, encenador há mais de vinte anos.
Hermia

Conceito e Objectivos – “Uma representação da representação”

O teatro de amadores é todo aquele que não é profissional. Quer isto dizer que os seus praticantes utilizam a linguagem teatral para se expressarem e comunicarem mas não visam qualquer fim profissional. Encarado como um modo de acção cultural, o teatro de amadores permite estabelecer uma prática não só entre os actores que o constituem mas também cria uma dinâmica entre o grupo e a comunidade junto da qual este actua.
Se um grupo de teatro de amadores não segue padrões empresariais, tem mais possibilidades de se manter genuíno e íntegro. Paschoal Carlos Magno, que muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro moderno no Brasil, sintetiza a questão: “Um teatro só é autêntico quando revela ou leva à cena os autores de seu país, quando descobre, ampara ou estimula os talentos novos e os jovens; daí a importância do teatro amador”.

Teatro de amadores a favor da evolução

Além de dinamizar um centro a nível cultural, o teatro de amadores permite a descoberta de novos recursos humanos, o desenvolvimento da dramaturgia nacional e internacional e a criação de uma linguagem cénica.
É através do teatro de amadores que os actores (e também os escritores, dramaturgos, produtores e técnicos) dão o chamado “salto” para o teatro profissional e ascendem à televisão e ao cinema.
A nova dramaturgia vai conquistando, também, um “lugar ao sol” e está nas mãos dos jovens escritores a constante actualização das temáticas reflectidas nos espectáculos.
O teatro de amadores é, acima de tudo, feito de pesquisas, riscos, experiências e novas propostas.


Manual de Teatro, de Antonino Solmer.
Hermia

Uma crise de identidade

Há quem diga que o teatro vive actualmente uma crise de identidade. Mas, afinal, qual é a arte que não a sofre nos dias que correm? António Vieira defende a sua dama: “O teatro está em crise desde que se conhece porque nunca acaba. Na verdade, hoje gasta-se mais dinheiro com os produtos culturais do que se gastava há dez anos atrás. O problema é saber se esse dinheiro é gasto com o teatro ou com um produto que pouco ou nada tem a ver com o teatro”.
Na Roma Antiga, os grupos de teatro não tinham lugar para ensaiar e faziam-no quase de forma clandestina. Os incentivos eram reduzidos e a informação insuficiente, razão pela qual as pessoas tinham pouco contacto com a arte. Actualmente, a situação não difere muito; os apoios financeiros e os patrocínios mantêm-se reduzidos e poucos grupos dispõem de lugar para ensaiar e actuar.
Nas sociedades anglo-saxónicas, o teatro é leccionado desde as escolas primárias e qualquer aluno que o deseje pode optar por seguir uma vertente teatral a nível curricular. Em Portugal, esta situação não se verifica “porque se cultiva a ideia de que a Arte não dá dinheiro”. A solução, de acordo com António Vieira, seria “uma nova Revolução de Abril na área das Artes para poder dar ao povo o que este quer e precisa. É uma necessidade primária dar cultura ao povo feita pelo povo ao próprio povo”.

“Teatro amador” vs. “Teatro de amadores” – Uma questão de português?

Em grego, teatro significa “lugar onde se vai para ver”. É uma arte colectiva, porque só em conjunto permite a existência do chamado “jogo teatral”. Significa que o erro é permitido, pois o que une as pessoas é a vontade, o desejo de fazer teatro.
Se é o prazer geral que une os actores amadores, é mais que legítimo afirmar que o teatro é mais “de amadores” do que “amador”. Uma nova definição que na opinião de António Vieira é mais do que justificada: “Na realidade só existe ‘Teatro’. Penso que há o teatro de amadores e não amador como se diz incorrectamente, que significa ‘teatro infantil’, ‘teatro amante’. Ora, não existe teatro infantil, mas sim teatro para a infância, assim como não existe teatro amante mas antes teatro de amantes. Porque o teatro é feito por amadores, por pessoas que a ele se dedicam”. António Vieira, enraizado nesta arte há mais de vinte anos, é uma dessas pessoas (entrevista em anexo).





“90% de trabalho, 10% de talento” (Entrevista a António Vieira, encenador da Companhia de Teatro de Amadores CORAgem)


Tânia Carvalho: Como surgiu o teatro de amadores em Portugal?

António Vieira: O teatro de amadores em Portugal sempre foi a melhor “canteira” do teatro profissional, como dizem os espanhóis. Pouquíssimos actores de qualidade chegaram ao teatro profissional sem terem passado primeiro pelo teatro de amadores. Antes do 25 de Abril e até ao final dos anos 80, as pessoas demonstravam as suas capacidades no teatro de amadores e depois iam estudar para os Conservatórios. O Teatro Experimental do Porto, por exemplo, surge mantendo uma parte profissional e uma parte de amadores. Actualmente, o teatro de amadores continua na mesma mas o seio do teatro profissional está diferente.


TC: Diferente em que sentido?

AV: O seio do teatro profissional é um seio de lobbies, de gente que só promove os amigos e não a qualidade, em que se misturam apetites sexuais com a realização de espectáculos. Hoje há, de facto, uma diferença maior entre teatro de amadores e teatro profissional. Agora, quem chega ao teatro profissional nem precisa ter formação nem de ter passado pelo teatro.


TC: Consegue definir o teatro de amadores em três palavras ou expressões?


AV: Muito pouco dinheiro e na relação directa muita criatividade e muito amor.


TC: Costuma-se dizer, até, que os actores de teatro de amadores são “movidos pela paixão”…


AV: Têm de ser movidos pela paixão e têm de ser muito mais criativos se querem fazer um teatro de qualidade, que é determinada apenas pelo público. Como têm poucos recursos, têm se ser muito mais criativos.


TC: O que é indispensável a um actor para que este possa fazer teatro?


AV: É preciso 90% de trabalho e 10% de talento. Quando falo em talento refiro-me àquele “não sei quê”, àquele “toque”, ao facto de um actor conseguir destacar-se em palco. Qualquer pessoa pode fazer teatro. Existem, no entanto, aqueles que têm uma “bênção”, bênção essa que os cientistas explicam classificando-a como congénita, que lhes vem por via hereditária e que os católicos dirão, talvez, que foi Deus que os abençoou. Brecht dizia que são precisos 30 anos para se fazer um actor e quando ele está feito já existem papeis que ele não pode fazer, porque entretanto já envelheceu. Mas o mais importante é o trabalho.


TC: Para finalizar, quais são, na sua opinião os nomes mais significativos do teatro nacional e internacional no que diz respeito a actores, encenadores e autores?


AV: A nível nacional: autor – Gil Vicente; encenadores – Luís Miguel Cintra e Roberto Merino; actor (velho) – Rogério Paulo, actor (novo) – Diogo Infante; actriz (velha) – Eunice Muñoz, actriz (nova) – não conheço.

A nível internacional: autor – Bertolt Brecht e Ésquilo; actores – Julian Beck e Robert DeNiro; actrizes (velha) – Eunice Muñoz, actriz (nova) – não conheço.


António Vieira a dirigir os mais novos actores da Companhia de Teatro de Amadores CORAgem.

Hermia




Para mais informações sobre as questões expostas neste artigo, consulte os seguintes sites:


Tânia Carvalho
2º Ano Turma 2


2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Curioso... ao que julgo saber existe uma Associação Nacional de Teatro de Amadores. Por que não se faz referência alguma a essa entidade?

www.anta.pt

3:48 da tarde  
Blogger Unknown said...

Precisava de entrar em contacto com a autora deste blog. Por favor entre em contacto comigo via mail luis.cardoso.vila@gmail.com

11:50 da tarde  

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